Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
Carlos drummond de Andrade
*3 meses
8 comentários soprados.:
A saudade dói, escrever faz bem...beijos,chica e linda semana!
Ahh,a saudade sei bem como é... profunda e intensa quando pensamos que está lá no fundinho sendo esquecida!
Beijos e um ótimo Dia!
Muito bonito esse poema de Drummond. A imagem, simples e marcante.
BeijooO*
"Você me impõe um silêncio devastador.
Você me deixa a sós com esse silêncio que dói mais do que um grito arranhado, do que um corte profundo na carne, que dói mais do que a palavra dor".
Bom dia ~> Beijusss;
Lindissimo poema
mensageiro este Drummond,
beijo
Só podia ser portuguesa esta palavra...
Adoro Carlos Drummond.
Beijo
estou a seguir o teu , podes seguir o meu tambem ? :)
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