24 de dezembro de 2012

Cal(maria)


“O coração do homem pode fazer planos,
 mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor”. 
Provérbios 16:1

Cheiros, sons, papéis escritos e guardados, contatos, fotografias, realizações, lembranças, sorrisos felizes e borrados, conquistas, histórias doloridas que machucaram corpo e alma. Tudo é um ciclo. Há dias venho pedindo licença a caneta e desculpa aos papéis. O pensamento é um transporte poderoso, chega rápido onde preciso. Mas hoje as letras cigarras fizeram barulho juntas na busca de sair da alma para o papel. Dia após dia, testemunhamos o aprendizado do nosso sentir, bem como a mudança de foco na percepção das coisas que vivenciamos. Lembrei-me das palavras de Mário Quintana: "No dia em que estiveres muito cheio de incomodações, imagina que morreste anteontem... Confessa: tudo aquilo teria mesmo tanta importância?" Percebo que de fato não tem mesmo. Refletindo a gente apura o sentir e enxerga a porta de saída. Sofrer não é o idioma da vida. Acumulei buscas até entender que meu caminho estava ali ao meu lado. O espaço do tempo fortalece as coisas. É um tipo de fogo que queima sem consumir. As vezes há muitas correspondências e poucos assuntos. Tudo tem haver conosco e disso nunca mais esqueço."Até o lixo que a gente joga fora fala de nós." Ressignificar as coisas é uma espécie de sol que entra coração adentro limpando o mofo das mágoas. Tenho aceitado meus limites e perdoado  os enganos do meu sentir (se leu isso e se encaixou, é porque deve ser pra você mesmo). Hoje entendo que algumas pessoas desistem de nós, porque já desistiram delas primeiro. Errar nunca me assusta, me assusta mesmo é a falta de ousadia. O foco do meu coração está nas coisas que ficam, como a pastinha onde guardo os desenhos e bilhetes que recebo dos meus filhos, a cadelinha que veio para nossa casa preenchendo os dias de alegria, os passos que dei para vencer meu medo de altura, meu aniversário cercado das pessoas que amo, o curso de fotografia que finalmente fiz e outras tantas coisas que realizei. Sou flecha lançada, não tenho volta. Meu sentir fez um pacto de fidelidade com minha infância, por saber que a maior das audácias é o intervalo da brincadeira virar oportunidade.

3 de dezembro de 2012

Reencontro



Um poema não é uma palavra que se perde no vento...
Fica registrado nas pedras, 
Vive, respira,
Tal como um ser pensante 
Grita que existe.
E muito embora 
Por vezes atirado em um livro qualquer
De uma biblioteca qualquer
Soterrado pela poeira do tempo
Em qualquer canto do mundo...

Quando um leitor comum
Enfim o encontra,
O poema
Limpa a poeira do seu paletó,
Olha as horas no seu relógio de bolso,
Pergunta a data,
E diz, como quem não quer nada:
‘Até que enfim... companheiro
Não sei se sabes...
Mas eu estava justamente à tua espera’.

Mário Quintana