25 de novembro de 2011

O momento decisivo é o dedo na garganta!

E ler, ler é alimento de quem escreve. Várias vezes você me disse que não conseguia mais ler. Que não gostava mais de ler. Se não gostar de ler, como vai gostar de escrever? Ou escreva então para destruir o texto, mas alimente-se. Fartamente. Depois vomite. Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta.
Caio F.

10 de novembro de 2011

Mesmo ainda no escuro, eu não erro o caminho.


Eu teria ido lá dar comida ao gato se eu tivesse um. Deveria ter deixado ao menos uma fresta da janela aberta, para às coisas não mofarem e o abandono não se formar junto com as teias de aranha. O pó do tempo não encobre nada. Ainda havia desassossego nos livros desarrumados. Ao retornar, passo meu olho quente sobre os guardados gelados, ando tão enfastiada do frio. O cheiro era o de sempre, feito digital. Também haviam coisas que pareciam existir de propósito. Eu, que  achava que os ruídos arrepiavam os pêlos do braço, percebi ali que o silêncio quando oco, faz isso também. Xícaras de café intactas sobre a mesa,  demonstram que apesar de esfriar, certas coisas são como as palavras, elas sobrevivem.

2 de novembro de 2011

Sob medida


Eu quero uma companhia de alegrias e fadigas. Que ande comigo e ajude a manter meu coração descalço. Que nossas fotografias abram os olhos para nunca parecerem indiferentes.  Nenhuma torre será alta demais e  nenhuma fada sera expulsa do conto.  Vamos  decretar  que as estrelas caem de maduras,  por isso o pedido precisa ser rápido, para não apodrecer no esquecimento.  Os ciúmes podem ser disfarçados e  os telefonemas do tipo "quero te ver".  Que a gente faça arte andarilha com nossos chinelos desempedidos de caminhar. Quero mudar o sabor do vinho ao beber junto. Confessar uma culpa que nem carrego, se isso o fizer sorrir. É preciso que não haja minutos de silêncios glaciais e que a nossa janela é que faça a paisagem. Que a gente não deixe a vida ser carrasca de nos gastar o tempo sem estarmos juntos. Preciso de alguém que pegue o dia desajeitado e o ajeite num passeio à dois de bicicleta. Que eu durma ao lado do telefone esperando ele tocar.  Uma companhia que tenha fome no olhar e que provoque cócegas nos meus olhos. Alguém que eu deseje ter ao lado ao acordar e que quando me olhe, eu pense: raras vezes na vida, alguém me olhou assim.

1 de novembro de 2011

Pés para sentir


Presta atenção:
Quanto os pés tateiam o chão
 é pra vê se a gente aprende
que o sentir
não tem contra-mão
ele corre livre
em estrada de terra com chão batido
onde o suspiro
canta seus  passos
porque nada enfada mais
do que manter os delírios em silêncio.

Ressurreição diária



Amar
é reinventar à dois
(todos os dias)
como brasa dormida que acorda.